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De personalidade tão complexa que só a construção de espaços como este para comportar um pouco da trajetória intimista; paradoxalmente, tão simples a ponto de permitir-se tornar invisível em prol da autopreservação...Sou eu.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Elaborando hipótese diagnóstica...

Tenho 32 anos e recebi a alguns meses a hipótese diagnóstica de sindrome do transtorno bipolar, uma patologia psiquiatrica que não impede seu portador de trabalhar, estudar, constituir família... enfim, de ser um individuo "normal" (digo, de acordo com padrões comuns de comportamento).

O normal entre aspas serve para suscitar uma discussão acerca do que, afinal de contas, é ser normal?
O conceito de normalidade é relativo e todos os seres humanos são diferentes, ainda que apresentem um determinado padrão de comportamento comum. Cada um tem uma maneira particular e característica de se mover e construir sua história na sociedade.

Importante o preâmbulo acima para dirimir pré- conceitos (assim mesmo!!!) acerca do mito criado em torno da doença psiquiátrica,

Desde criança noto características parecidas com aquelas típicas do TAB, mas só recebi impressão diagnóstica de Psiquiatra aos 32 anos (com diagnóstico inicial de reação aguda ao estresse seguido de depressão), qdo passei a cuidar de forma terapêutica dos sintomas associados à patologia.

Noto que desde muito nova o padrão se repete: fases de euforia, de querer "agarrar o mundo com as pernas" (e conseguir produzir muuuuito), seguidas de fases de profunda depressão, de não-fazer, de ostracismo total, em que me recolho e me afasto de todos, ferida, magoada, tolhida e insatisfeita por estar viva e improdutiva.

É uma doença interessante para quem busca o autoconhecimento, pois não raro o portador de TAB caracteriza-se por ser talentoso, mas de modo geral, ao longo da trajetória de vida, mostra-se pouco eficaz, pq só produz na fase de euforia.

Quando a doença fica sob controle médico-terapêutico (Psiq, Psico, Nutri, Cardio, equipe multidisciplinar de preferência), o portador tem uma vida relativamente próspera, porque o bipolar é empreendedor nato, quer construir, desconstruir, reformar, inovar, mudar o mundo; muitos se destacam nas artes, na música e afins pq são criativos...

Sabe, para desconstruir o mito da doença psiquiatrica eu demorei quase 33 anos, me sentia uma estranha, não compreeendia, tampouco minha família. Hoje sou servidora pública e tenho uma filha linda, que aparentemente não "herdou" minhas caracteristicas patológicas (a herediatariedade/genética pode ocorrer nestes casos); trabalho com informática, meu verdadeiro prazer, e pretendo cursar agora faculdade de Engenharia da Computação, que é uma das aspirações "roubadas" pelo transtorno, pois poderia ter feito antes... mas muitos fatores contribuíram e não quero externar arrependimento , pq a culpa é um estado de alma que consome as energias e não acrescenta em nada... Só descobri com muita terapia, autoterapia.

Mesmo com todos os problemas que o transtorno me causou, jamais posso culpar-me de algum não-fazer, pois lutei muito ao longo da vida e amealhei vitórias das quais não posso reclamar. Faltam cumprir projetos de vida? Claro que sim, assim como à maioria.

Não sou melhor ou pior que um "normal", sou diferente, assumo-me portadora de uma doençazinha chata, mas que aprendi a não mais deixar que me atrapalhasse. Luto contra ela diariamente, e cuido de marido, filha,trabalho, curto meus grandes prazeres, que envolvem o uso da informática (Banco de Dados, aaaaaamo!!!, Excel, internet, blog, escrever em meu diário digital, escrever pra vocês, conhecer sites de contúdo informativo e fidedigno...), luto diariamente contra a balança, pois sou bom garfo (por isso a Nutricionista é indispensável em minha vida!) e sigo a vida, bipolar, eufórica, depressiva, feliz, rabugenta, humana e limitada.

Compuz este depoimento para desmistificar a doença psiquiátrica. Não as tem quem é louco. Não é preciso fugir ou ter pena do portador. Não mata, não aleija. Não acuso ninguém de pensar assim não, viu? Fiquem tranquilos! É apenas mais uma maneira de também me convencer disso diariamente para que não sofra de culpa, autopiedade, para que eu possa cada vez me conhecer mais, para que receba as impressões de quem irá ler e comentar meu relato, para dividir com o máximo possível de pessoas meus acertos e desacertos na vida, me identificar com algumas, discordar de outras. Socializar-me... Tudo isso faz parte de uma terapia que preciso entender que em minha vida é para sempre, se quero ter qualidade de vida. Sou tão diferente de qualquer um outro ser humano, e ao mesmo tempo tão igual... É um prazer dividir. Será um prazer ter podido contribuir para que alguém(ns) (rs) passe a se perceber melhor depois de meu relato, pq tem muuuuuita gente que sofre de transtornos psiquiátricos e não aceita, não reconhece para si mesmo, não expõe para não se expor, por vergonha, medo de parecer inferior, ser rejeitado.... E outros medos que, infelizmente o impedem de ser pleno, de ser feliz. Experiência própria. 30 anos, e eu ainda cantava "...Não vou me adaptar.......". Pois bem, adaptei-me, e a luta continua, companheiros... Um forte abraço!!!

Espero que este depoimento semeie algo de promissor na cabeça de certos normalóides preconceituosos de plantão...

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