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De personalidade tão complexa que só a construção de espaços como este para comportar um pouco da trajetória intimista; paradoxalmente, tão simples a ponto de permitir-se tornar invisível em prol da autopreservação...Sou eu.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A caixa de cada um

Na origem latina, humor significa líquido, fluido. Curiosamente, os psiquiatras gostam de compará-lo com uma caixa-d’água: o cano de entrada é o que os médicos chamam de ativação; o cano de saída é a inibição; e a boia, o controle. Em uma pessa equilibrada, o fluxo de água (de humor) é normal.

Mas os bipolares têm a boia quebrada. Durante a mania extrema, entra muita água na caixa, mas o cano de saída entope e a pressão extravasa o líquido. Já na depressão pesada, é como se o cano de entrada estivesse entupido e todo o líquido saísse, deixando a caixa vazia, ou a pessoa sem motivação.

Mas não existe só caixa-d’água vazia ou caixa cheia. “Dizer que bipolaridade é só alternância de euforia e depressão é apresentar um quadro maniqueísta do transtorno”, garante a psiquiatra americana Jamison. “Existem muito mais tons de cinza do que se imagina.” Apesar de não alcançarem as nuvens nem o fundo do poço, a vida dessas pessoas é marcada por irritabilidade e medo, e é preciso estar atento aos sintomas.

Em meio a metáforas hidráulicas e cromáticas, fica a pergunta: o que tem de mais em ser eufórico de vez em quando? Quem não gostaria de poder canalizar uma energia feroz, inteligência rápida e talento abundante? Ou, por outro lado, curtir uma fossa daquelas, lavar toda a roupa-suja em casa ou na rua sem ficar remoendo os problemas?

Parafraseando Anna Karenina, dá para dizer que todas as crises depressivas se parecem, mas cada crise eufórica é eufórica à sua maneira. Jamison conta o caso de “Jack Bauer”, um jovem de 18 anos que acreditava que sua vida estava sendo filmada 24 horas por dia. Há também o “Mente Brilhante”, um senhor elegante e bigodudo de 45 anos que acreditou ter descoberto a solução para a economia mundial e escrevia páginas e páginas com esquemas. “Até mesmo uma bipolaridade mais branda pode queimar o filme. Um paciente hipomaníaco traiu a esposa durante uma crise que durou dois dias e engravidou uma mulher que nunca tinha visto”, conta Lara.

O poeta Robert Lowell tinha uma frase sobre as duas faces do seu distúrbio: “A depressão é pessoal, e a euforia é social” – e, por isso, menos tolerada. Como o bipolar quase sempre tem um comportamento normal em público, suas crises maníacas parecem cafajestada e não doença. Mas são. “O bipolar sabe a diferença entre certo e errado, mas não consegue se controlar”, explica a presidente da Associação Brasileira de Transtornos Afetivos, Helena Calil.

Vivendo num mundo bipolar, como saber o limite entre a doença e a normalidade? “Se o comportamento prejudica a vida da pessoa, deve-se procurar ajuda”, afirma Lara. Cada um sabe quando enche ou esvazia a sua caixa-d’água.


10% da população mundial sofre de distúrbios de oscilação do humor.


3,5% das pessoas têm transtorno bipolar. Em 1980, era 1%.


70% é o risco de um gêmeo de bipolar ter o mesmo distúrbio.


15% é o risco de um parente em 1º grau de bipolar também sê-lo.


1994 - Nesse ano, entrou em vigor uma definição mais ampla de bipolaridade.


25% dos bipolares tentam suicídio ao menos uma vez na vida.

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Extraído de
http://super.abril.com.br/cultura/mais-ou-menos-616490.shtml

Intimismo... Clarisse Lispector

"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca."


"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."


"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."


"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. "Eu te odeio", disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia. Como cavar na terra até encontrar a água negra, como abrir passagem na terra dura e chegar jamais a si mesma?"


"E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar."


"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."


"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdoo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre."


Clarisse Lispector

Transtorno Afetivo Bipolar

"(...)Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja. Clarice Lispector"

Resumo do livro: "Vidas Escondidas", da Advogada Pública Federal Tereza Cristina Viana Costa

"O transtorno ou desordem bipolar (anteriormente definido como psicose maníaco-depressivo) é uma alteração do humor, gênio ou temperamento caracterizada por períodos alternados de mania e de depressão. Cerca de 2,5% da população norte americana na faixa de 18 anos ou mais anos apresenta sintomas de desordem bipolar. Ou seja, como base no último censo de 300 milhões de habitantes, ou seja, um contingente duas vezes maior que a população do Uruguai. Uma cifra mais conservadora é de que 1% de qualquer população é acometida deste tipo de transtorno mental. Caso então, de 1,8 milhões de brasileiros. O desvio é mais freqüentemente encontrado em artistas, músicos, autores, poetas e cientistas e acredita-se estar diretamente relacionado com a capacidade criativa destes grupos de pessoas. Uma das maiores autoridades mundiais no tema Drª Kay Jamison, professora e psiquiatra na famosa Universidade John Hokins (USA) e professora honorária na Universidade de St. Andrew (Escócia). O diagnóstico dela como afetada pelo transtorno bipolar se deu aos 17 anos. Seu livro mais famoso é Uma Mente Inquieta (autobiográfico). Diferentemente do passado, atualmente o indivíduo procura quebrar o preconceito e a falta de conhecimento sobre o transtorno bipolar numa perspectiva multidisciplinar. Para alguns, como o que ocorre comigo, que, com esmero, busco o autoconhecimento, relacionando-me cada vez melhor comigo mesma e com os outros, assim, poeticamente feliz e de formas leve e ao mesmo tempo forte. O fato é que muito precisam de esclarecimentos sobre a bipolaridade, mas anseiam, de forma milagrosa, por um equilíbrio emocional-afetivo, físico e espiritual. Contudo, muitos não sabem onde buscar as informações, como agir nem a quem recorrer. E mesmo quando isso ocorre muitos não têm acesso às devidas assistências. Com o tema atualmente debatido em razão da novela Caminho das Índias me encorajou a escrever minha vivência, sofrimento e vitórias."

Extraído de
http://unafe.jusbrasil.com.br/noticias/1920767/advogada-publica-federal-lanca-livro-sobre-transtorno-bipolar-afetivo