Quem sou eu

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De personalidade tão complexa que só a construção de espaços como este para comportar um pouco da trajetória intimista; paradoxalmente, tão simples a ponto de permitir-se tornar invisível em prol da autopreservação...Sou eu.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

AH/SD?

JCOB, 32 anos, ‘ex-portadora do Transtorno Afetivo Bipolar e atualmente com uma segunda impressão diagnóstica no currículo – detentora de tais ‘altas habilidades’.

Com exceção ao fato de não precisar de medicação, ter AH não é muito melhor ou pior do que a primeira impressão clínica. Mantenho as mesmas angústias, a mesma sensação de satisfação e insatisfação e o triste estigma carregado pelos diferentes... Ademais, a luta pelo autoconhecimento e autogerenciamento de emoções continua, além da necessidade de sustentar alguma válvula de escape que me propulsione para longe de meus monstros psíquicos.

Antes de iniciar esta jornada de impressões, a confissão de um minipecado: hoje não é 01 de janeiro de 2011. Na verdade são 26 de janeiro de 2011. Digamos que responsabilizarei este ligeiro ajuste (ou desajuste) de datas considerando que hoje me proponho a realizar uma série de modificações internas e externas e, uma vez que boa dose de ações e impressões padronizadas faça parte do conjunto de minhas características naturais (e este livro está sendo construído justamente para revelar facetas de mim), mantenho a data de início como espécie de marco entre aquela que conversava oralmente consigo mesma para puncionar e aliviar sua inquieta psique e esta que registrará por escrito seus mais recônditos devaneios.
A cabeça lateja levemente, ansiedade contida e desnecessária. Costumeira dor que me acompanha desde quando ainda nem me fora apresentada, quando desconhecia seu nome e real função. Hoje somos íntimas, companheiras, empáticas. Quando meus pensamentos incham o cérebro num turbilhão não comportado, o latejar se insinua para lembrar-me de minhas limitações. E se insisto em não me desvencilhar da torrente de informações que se atropelam no diminuto espaço, derruba-me sem dó obrigando-me a ficar quieta, no escuro; ou talvez inquieta curtindo desde o familiar incômodo de enjôos, estocomas, até males gastrintestinais e pesadelos (quando me permite dormir).

No entanto esta enxaqueca é empática e solidária, me devolve à terra, à realidade. Obriga-me a olhar para mim, não me permite esquecer que sou falível. Algum tempo de familiar tortura e retomo a luta renovada e alerta, pois a agrura anterior, ainda fresca, avisa-me do quanto é capaz de frear minhas ações e sentidos apenas para me permitir lapidar a percepção do real sentido atribuído à vida.

Hoje minha companheira trouxe junto alguns coadjuvantes que insistem em incomodar mais que o plano físico. O estado deprimido resolveu fazer-me uma visita. Disse um olá e afastou-se para permitir que decida se desejo sua companhia ou se o dispenso. Familiar e empático. Necessário vez ou outra. Dores no corpo e baixa imunidade o acompanham. Examino-o com minúcia e despeço-me com determinação. Entreolham-se e combinam de me deixar junto apenas da inseparável enxaqueca. Ainda assim ela prefere se despedir apenas quando nota que ficarei bem, acompanhada destas memórias.

Grata surpresa! Estou bem melhor, o latejar enfraquece e ao afastar-se lentamente leva junto aquele motim que outrora se rebelou em meu cérebro, instigando-me a lutar contra mim mesma, sugerindo que deva me revoltar contra a frustração e insegurança que me assolaram a alma por algumas horas. Venci os rebeldes e despedi-me alegremente da dor e somatose, sem alopatas paliativos que enganosamente neutralizam meus companheiros, mas nada além; mostram-se ineficazes aos agentes causadores: rebelados irrecuperáveis, que para sempre terei de controlar, pois não-raro resolvem amotinar-se no anfiteatro de meus pensamentos e emoções.

Contanto que coabitemos mutualisticamente, nada resta senão receber vez por outra dolorosa companheira e sentinela.

Necessária visita.

Paz.

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