Desde ontem sinto-me estranhamente excitada, como em certa ocasião... ocasiões. Constatei, quer dizer, percebi que possuo características de quem sofre da síndrome do transtorno bipolar. Episódios de extrema euforia, metabolismo acelerado, vontade de fazer tudo ao mesmo tempo, recuperar um tempo que julguei perdido; lembro-me de quando conheci aquele que seria a pessoa que mais deixou notório esse transtorno: Zequinha. Ele foi tudo pra mim, depois, não restou mais nada, só um vazio incomensurável. Tentei imputar a ele a culpa para meu descontrole psíquico (que talvez nem tenha notado), mas eu me percebi perfeitamente naquela ocasião, e cheguei a “profetizar”: - “Não quero ser eu quando chegar o período de ostracismo!!!”. Acabei de sorrir. Sabia que estava falando de mim mesma, e sabia que a queda estava próxima. Senti tudo, percebi tudo, mas de modo aleatório, sem de fato saber ou relacionar adequadamente a uma doença.Tratável. Nesse momento sinto uma ansiedade que certamente está controlada por conta dos remédios. Parece um vulcão prestes a estourar em meu peito (em menor intensidade, como se eu estivesse sedada. Não é ruim; ao contrário... Mas é estranho! Mais ainda... é melhor do que como eu me sentia, a metamorfose que ocorria em mim quando me sentia assim), e hoje posso tudo, posso perder o peso que almejo, posso ter a vida que desejo, posso não sentir culpa por minha filha não estar ao meu lado (tudo bem, pois está com a família paterna). Gostaria de produzir algo positivo no período de mania, porque me sinto tão, tão ... forte!!! Tão capaz! Quando a melancolia voltar, chorarei diante deste depoimento. Mas preciso me conhecer para me cuidar.
Quando conheci o Zequinha, ele era super carismático, elogiava sempre, era uma figura bonita, político (literalmente) e nos elogiava até o último grau. Nessa mesma época eu estava numa fase de mudança: 30 anos, era gordinha como sou hoje, mas fiz comemorações memoráveis com os amigos e a família. Sexta almoço com a família e jantar com os amigos. Sábado almoço com a família e amigos. Domingo almoço com a família paterna de minha filha (nos damos bem). Foi ótimo, mas nunca fui satisfeita com o corpo. Resolvi emagrecer e, com a ajuda e os elogios do meu amigo Zequinha, que alimentava meu ego (até demais), perdi 25kg. Foi um período ma-ra-vi-lho-so, mas de muitos gastos, de muita despesa, em que eu enfrentava alguns momentos de melancolia insuperável, mas em intervalos curtos, principalmente quando ficava sem ver o Zequinha, quando não nos ligávamos. Não havia nada de amor homem/mulher; era uma necessidade doentia. Mas um dia, por um episódio simples referente ao trabalho, em que ele poderia, deliberadamente, ter me prejudicado (mas já havia me prejudicado irreversivelmente de outras formas), rompi com ele, no íntimo. Todo aquele apego foi se transformando em decepção, em desapego, em indiferença, em mágoa (a mágoa passou). Na época em que o “adorava” (isso mesmo!), bancava todas as suas tolices, suas farras, de seus primos e amigos. Não, a culpa não foi só dele! Minha carência cegou-me e paguei por carinhos e atenções. Quando a ficha caiu, o dinheiro havia acabado, o amigo havia sumido, de dentro de mim principalmente, pois fui ficando tão fria e indiferente que ele notou e se afastou lentamente, até não haver mais nada que nos ligasse.
Foi um período tão intenso, que se o descrevesse, talvez fizesse um livro extenso somente do período de agosto a dezembro de 2008. Foi o tempo que durou a fase mais excitante da minha vida (sem nenhum apelo erótico! Importante ressaltar, pois tudo foi muito intenso e eu saía bastaaante, mas só tive dois ficantes, e de apenas beijos na boca, o Henrique e o Jr. Foi bacana justamente porque não tenho absolutamente do que me arrepender nesse sentido. Estava sozinha, sem sexo, sem ter tido nenhum relacionamento consistente e me sentia plena, madura, linda e saudável). Esse trecho entre parênteses é importante porque fui muito feliz sim, apesar da dependencia da amizade e da companhia do Zequinha, apesar de ter gasto de uma forma irresponsável os maiores valores que já amealhei na vida, graças a muito trabalho (10 contas médicas e 120 horas extras/mês, fora o trabalho regular de 120 horas/mês). Vou mostrar meus relatos à Psiquiatra e à Psicóloga para identificar se realmente sofro o transtorno bipolar ou se sou apenas carente. Ou talvez os dois.
Passei um bom tempo sem querer tocar no assunto, nem comigo mesma. É a primeira vez que relembro, e não é uma experiência ruim não! Pensei que seria pior. Eu me senti como se, de repente, eu tivesse recebido dois pares de orelhas enormes, uma cauda e passasse a azurrar ao invés de falar. Foi uma sensação muito ruim não conseguir conversar nem comigo mesma sobre o ocorrido.
Outro dia encontrei o Zequinha e o abracei desarmadamente; foi bom. O mal que “ele” me fez foi permitido, foi até um pedido do meu inconsciente.
Nunca parei para mensurar o grau de afinidade que compartilho com as pesssoas com as quais convivo, mas tudo o que passei com esta pessoa em especial foi tão incomensurável que, quando veio o ostracismo, me afastei até de pessoas que verdadeiramente me admiravam, me afastei como um cão ferido, e lambi minhas feridas... Lambi as feridas que relatei até registrá-las hoje.Talvez continue me ferindo e tendo de lamber para me consolar, mas terei mais cuidado para não me afastar demais ou me aproximar demais, simplesmente porque a vida não é feita de extremos. Junto com minhas terapias (medicamentosa, psicossocial e interna) encontrarei o meio-termo do bem-estar.
Estou feliz por externar algo tão intenso e que engasgou-me, ocupou e reteve boa parte de minha energia por tanto tempo.
Estou chorando... Acabei de ler e o filme passou... Chorando mais... De ter tido tanto medo de relembrar toda essa história, tão minha, que me desnuda a alma, que expõe minha fragilidade. Nesse momento é bom estar sozinha, sem interferências, para dar a exata dimensão aos sentimentos. Essas gotas salgadas que estou experimentando são apenas para lavar a ferida da alma. O sal dói, mas a dor está perfeitamente suportável, a julgar pelo medo que sentia de trazer à tona todas essas lembranças.
Passou. Foi bom. Terapêutico. Revelador... Até.
passou, passou! outras virão e passarão tb!!!
ResponderExcluirTUDO PASSA!
escreva e escreva e escreva!
bjoka
ana maria saad
Não tenho o prazer de te conhecer, infelismente. O que escreveste é muito bonito, pessoal e intimo. És corajosa e possuidora de um vigor espiritual impressionante. A maneira como expressas teus sentimentos, te desnuda aos olhos de quem lê teu texto. O Zequinha foi um sortudo, que equivocou-se. Com a insensatez dele, perderam-se sentimentos que se cultivados, seria o elo que os uniria pro resto da vida. Mas quem sabe se não aparecerá outro "Zequinha" em tua vida, despertando um sentimento mais duradouro, que trará muitas felicidades!
ResponderExcluirComo disse Ana Maria Saad, escreva, escreva e escreva. Você escreve muito bem.
Clovis Guedes Costa.