Mas os bipolares têm a boia quebrada. Durante a mania extrema, entra muita água na caixa, mas o cano de saída entope e a pressão extravasa o líquido. Já na depressão pesada, é como se o cano de entrada estivesse entupido e todo o líquido saísse, deixando a caixa vazia, ou a pessoa sem motivação.
Mas não existe só caixa-d’água vazia ou caixa cheia. “Dizer que bipolaridade é só alternância de euforia e depressão é apresentar um quadro maniqueísta do transtorno”, garante a psiquiatra americana Jamison. “Existem muito mais tons de cinza do que se imagina.” Apesar de não alcançarem as nuvens nem o fundo do poço, a vida dessas pessoas é marcada por irritabilidade e medo, e é preciso estar atento aos sintomas.
Em meio a metáforas hidráulicas e cromáticas, fica a pergunta: o que tem de mais em ser eufórico de vez em quando? Quem não gostaria de poder canalizar uma energia feroz, inteligência rápida e talento abundante? Ou, por outro lado, curtir uma fossa daquelas, lavar toda a roupa-suja em casa ou na rua sem ficar remoendo os problemas?
Parafraseando Anna Karenina, dá para dizer que todas as crises depressivas se parecem, mas cada crise eufórica é eufórica à sua maneira. Jamison conta o caso de “Jack Bauer”, um jovem de 18 anos que acreditava que sua vida estava sendo filmada 24 horas por dia. Há também o “Mente Brilhante”, um senhor elegante e bigodudo de 45 anos que acreditou ter descoberto a solução para a economia mundial e escrevia páginas e páginas com esquemas. “Até mesmo uma bipolaridade mais branda pode queimar o filme. Um paciente hipomaníaco traiu a esposa durante uma crise que durou dois dias e engravidou uma mulher que nunca tinha visto”, conta Lara.
O poeta Robert Lowell tinha uma frase sobre as duas faces do seu distúrbio: “A depressão é pessoal, e a euforia é social” – e, por isso, menos tolerada. Como o bipolar quase sempre tem um comportamento normal em público, suas crises maníacas parecem cafajestada e não doença. Mas são. “O bipolar sabe a diferença entre certo e errado, mas não consegue se controlar”, explica a presidente da Associação Brasileira de Transtornos Afetivos, Helena Calil.
Vivendo num mundo bipolar, como saber o limite entre a doença e a normalidade? “Se o comportamento prejudica a vida da pessoa, deve-se procurar ajuda”, afirma Lara. Cada um sabe quando enche ou esvazia a sua caixa-d’água.
10% da população mundial sofre de distúrbios de oscilação do humor.
3,5% das pessoas têm transtorno bipolar. Em 1980, era 1%.
70% é o risco de um gêmeo de bipolar ter o mesmo distúrbio.
15% é o risco de um parente em 1º grau de bipolar também sê-lo.
1994 - Nesse ano, entrou em vigor uma definição mais ampla de bipolaridade.
25% dos bipolares tentam suicídio ao menos uma vez na vida.
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Extraído de
http://super.abril.com.br/cultura/mais-ou-menos-616490.shtml